quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Queijo: Uma paixão nacional. Pelo menos por aqui...

Quando se tem a chance de passear pela França dentre as suas diferentes regiões, um tipo muito especial de comércio pode chamar a atenção.
Começa-se a reparar que elas estão em toda parte. Toda cidade tem pelo menos uma.
São inúmeras lojas bem particulares: algumas são muito chiques, sofisticadamente instaladas no coração dos bairros mais descolados da capital. Outras tem ares mais sóbrios, dando a entender que o que se vende ali é coisa muito séria. Algumas até são bem simples e modestas - mas nem por isso menos charmosas - resistindo por vezes à centenas de anos em algum vilarejo perdido da campanha. Ah, mas uma coisa todas elas têm em comum - além do cheiro de chuteiras molhadas, que se sente à centenas de metros de distância: elas vendem única e exclusivamente QUEIJO.
A Fromagerie Jean D'Alos, em Bordeaux.
A gente pode se perguntar se uma loja especializada em queijos sobreviveria em algum outro lugar do mundo. Certamente na França, a resposta é sim. O povo adora queijo! E literalmente não vive sem! São cerca de 24kilos consumidos por pessoa por ano!!!
Só para se ter uma idéia do que estamos falando, o país conta com mais de 350 tipos diferentes catalogados e oficializados deste laticínio! Isso mesmo, dá quase pra provar um tipo diferente de queijo por dia, durante um ano inteiro!

O assunto é levado tão a sério por aqui que os fabricantes classificam os seus produtos em "appellations" e tudo, como o vinho. Diga-se de passagem, nunca ouviu-se falar de um casamento tão feliz como este entre o queijo e o vinho. Existe praticamente um tipo de vinho para uma qualidade de queijo, em combinações estudadas e testadas através de centenas de anos de experiência, buscando realçar sabores e complementar aromas mutuamente.

Diferente da cultura brasileira, onde o queijo vem à mesa sozinho mais naturalmente no café da manhã, na França não é raro que ele faça parte do almoço ou do jantar. Por exemplo, é comum servir um plateau de fromages (prato de queijos) entre o prato principal e a sobremesa. Existem até mesmo restaurantes especializados como o Baud et Millet, onde podem-se degustar refeições inteiras - entrada, prato principal e sobremesa - totalmente à base de queijo.

Enumeram-se tantas lendas para a origem desta iguaria na história da humanidade quanto os seus tipos diferentes que se desenvolveram com o passar dos anos. Numa delas, um nômade do Oriente Médio, por volta de 5000 a.C., teria transportado leite durante uma viagem dentro de sacos feitos do estômago de cabra. O leite, sob a ação do calor e das enzimas contidas na mucosa do saco, teria fermentado, virado uma coalhada e endurecido durante o transporte. O viajante teria provado este leite "empedrado" e começado assim esta que seria uma tradição milenar de amor do homem pelo queijo.

Para terminar, deixo aqui uma frase de Brillat-Savarin, que ao meu ver resume bem o que pensam os seus conterrâneos sobre o fromage:

" Un repas sans fromage est une belle à qui il manque un œil "

"Uma refeição sem queijo é uma bela a quem falta um olho " (!!!)

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