quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Trio Mediterrâneo, Parte 3: Anchoïade

E finalizando a nossa tríplice de pastinhas do Mediterrâneo, voilà aquela que se chama Anchoïade. Trata-se de um creme de anchovas ao azeite de olivas e vinagre de vinho.

Existem duas correntes fundamentalistas no que diz respeito à forma de preparar esta receita.
Algumas pessoas a executam como se fosse uma maionese: "montando" o azeite em fio. Outros preferem apenas misturar os ingredientes - triturando-os ao pilão - e com isso conservando mais a sua fibra original...

Eu considero que a apresentação final utilizando-se o processo de "montagem" do azeite de oliva é mais atraente, mais volumosa...

Em todo caso, as duas formas funcionam igualmente bem para produzir um molho soborosíssimo utilizado para acompanhar legumes crus ou cozidos apresentados frios, como entrada ou tira-gosto.

Sirva acompanhando um vinho rosé de Provence ou um Pastis com bastante gelo!

Anchoïade

Ingredientes:

  • 200 g de anchovas em conserva
  • 2 dentes de alho
  • 1 col. à café de vinagre de vinho
  • 15o ml de azeite de oliva extra-virgem
  • Pimenta
Modo de Preparo:

  1. Limpe os filés de anchova: abra-os cuidadosamente com um corte ao longo do ventre, retirando a espinha central e a cauda. Lave-os bem em água corrente.
  2. Passe ao mixer ou liquidificador: as anchovas, o alho, o vinaigre e uma pitada de pimenta.
  3. Adicione aos poucos o azeite de oliva, sempre em fio, como que para preparar uma maionese. O mixer ou liquidificador deve estar em rotação lenta.
  4. A consistência final deve ser a de um creme, quase uma pomada.
E não se esqueça: sirva acompanhado de legumes à sua escolha... Tomates-cereja, couve-flor, aipo, radite, pepino japonês cortado em bastões, etc.

E bon appétit!



segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Trio Mediterrâneo, Parte 2: Aïoli

Em provençal (antiga língua falada no sudeste da França), ai significa "alho" e oil significa "óleo". Já podemos imaginar os seus dois ingredientes principais, não? Pois trata-se basicamente de uma maionese sem mostarda.

Algumas vezes a sua grafia é Aïoli - com a trema sobre o ï - por questão de pronúncia em Francês.
De tão utilizado pelos habitantes da região, o Aioli durante anos ficou conhecido como a manteiga provençal.
Embora o prato chamado Le Grand Aïoli (onde ele acompanha uma preparação à base de bacalhau e batatas) seja a sua coroação máxima, o Aioli acompanha muito bem simples batatas cozidas ao vapor, os legumes crus (como as cenouras, cortadas em palitos), pão grelhado, ovos duros, peito de aves servido frio, peixes, crustáceos e... Escargots!
E nos tempos modernos de retorno ao "bio" e aos produtos naturais, trata-se também de um excelente substituto para uma maionese industrializada! Os seus sanduíches vão agradecer. E o seu coração também.
Aqui eu passo uma receita tradicional (retirada do site http://www.saveursdumonde.net/). Tão tradicional que se fazem necessários um pilão, uma tigela de fundo grosso e muita paciência para montar a mistura. Certamente um Aioli feito ao mixer seria uma heresia para alguns francêses.
Se você tem mais o que fazer, um liquidificador em velocidade lentíssima pode ser de grande utilidade.
Bom, agora só falta preparar uma boa dose de Aioli e vasculhar a geladeira por algum complemento interessante.
Dizem os entendidos que um vinho branco seco de Côtes de Provence acompanhará com perfeição a composição.

Aïoli
Ingredientes:
  • 1 litro de azeite de olivas extra-virgem
  • 10 dentes de alho
  • 3 gemas de ovos
  • sal e pimenta

Modo de Preparo:

  1. Descasque os dentes de alho. Substitua os que possuam defeitos.
  2. Abra cada dente com um corte longitudinal e retire o broto interno esverdeado que é super indigesto!!!
  3. Em um primeiro momento, pique todo o alho grosseiramente com a ajuda de uma faca.
  4. Depois passe-o para uma tigela e esmague-o com o pilão até obter uma pasta. Durante esta operação pode-se adicionar um pouco de sal... Este passo é longo: continue a esmagar os dentes até que estes adquiram a consistência de uma pomada.
  5. Pomada feita, sem parar de mover o pilão em círculos contra o fundo da tigela, adicione as gemas uma à uma e um pouco do óleo (cerca de umas 4 colheres de sopa). Esta fase é crítica. Não cesse os movimentos em círculo (e sempre no mesmo sentido), pois o Aioli risca "desandar". Uma pasta mais grossa deve se formar.
  6. Continue a misturar com o pilão e adicione, pouco à pouco, o resto do azeite, sempre em um fio! Se meter-mos azeite demais de uma só vez, o Aioli provavelmente "desandará" também. Eu sei, não é fácil, mas vale a pena. Paciência aqui é tudo.
  7. Neste momento a emulsão se torna mais firme e suas bordas começam a se descolar da parede da tigela, rolando para dentro.
  8. Quase terminado, continue a adicionar o azeite à gosto, sempre em fio.
  9. Quando a mistura está pronta, ela deve ser relusente e firme o suficiente para segurar o pilão em pé quando este é deixado no meio da tigela.

Deguste sem moderação.

E bon appétit!



quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Trio Mediterrâneo, Parte 1: Tapenade

A Tapenade não é apenas uma pastinha à tartiner (espalhar no pão). Ela é excelente também se utilizada como recheio para peixes, aves e pequenos legumes assados. Mais que isso, ela é uma mistura de sensações de mar, rochedos e campos de oliveiras sob o sol...
Ela compreende em sua receita um pequeno extrato muito bem balanceado daquilo que a Natureza é capaz de produzir numa certa região do mundo. Nela os sabores dos ingredientes não competem entre si, mas se completam resultando em um tom único que remete exatamente à esta região particular.

É como servir Provence sobre fatias de baguette grelhadas.
;)

Tapenade

Ingredientes:

  • 170g de azeitonas pretas, sem caroço
  • 1 col. de sopa de alcaparras
  • 5 filés de anchovas em conserva
  • 1 dente de alho
  • 5 col. de sopa de azeite de oliva extra virgem
  • Algumas folhas de manjericão fresco (ou uma pitada de manjericão seco)
Modo de preparo:

  1. Misturar todos os ingredientes no liquificador ou mixer manual, até obter a consistência de uma pomada.
Não triture demais para conservar os pedaços das azeitonas!

Et bon appétit!





terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Entre o campo e o mar: os ares de Provence.

A França é como um continente.

Não, não me refiro ao seu tamanho (quase 15 vezes menor que o Brasil!), mas em diversidade. Com apenas algumas centenas de milhares de quilômetros quadrados (543.965m², para ser exato) são impressionante as diferenças que sentimos olhando pela janela do carro no trajeto de algumas horas apenas. Dos picos nevados das montanhas até a praia. Das densa florestas de pinheiros à maior duna de areia da Europa...

Acho que esta é uma das características deste país que mais me atraem. Me faz pensar no meu Brasil, aquele vasto universo contido no chão entre o Iapoque e o Chuí.

Se atravessarmos a França de norte à sul - da fronteira com a Bélgica , por exemplo, até a fronteira com a Espanha - notaremos uma gigantesca mutação. Não só na temperarura, mas também de vegetação, no sotaque, na cultura, nos costumes e, très important, na GASTRONOMIA!!!

Assim como o frio montanha pede uma refeição que nos reponha energias como um fondue ou uma tartiflette (preparação à base de queijo, batatas, cebolas, bacon e vinho branco), a proximidade com o mar nos convida aos sabores mais leves, aos frutos do mar, ao vinho rosé.

A região sudeste do país, mais especificamente aquela banhada em seu limite sul pelo Mar Mediterrâneo e situada entre os estuários dos rios Rhône e Var, é conhecida como Provence. Mais ou menos como a Flórida figura sendo "o" sonho de verão sem fim para os americanos, Provence se apresenta como o eldorado de dias idílicos de descanso tranqüilo para os francêses. Lá a vida corre diferente, os dias passam mais docemente. Esta é uma região particularmente rica no que diz respeito ao prazeres da boa mesa. Os ares do campo se misturam à brisa vinda do mar numa atmosfera quente e delicada. Esta é a terra dos imensos campos de lavanda, das oliveiras, dos milenares moinhos de vento, das praias de água azul turquesa e rochedo branco, do sol à pino o ano todo...

Dizem que os dias por lá são ensolarados 360 dias por ano (claro, os outros 5 coincidiram exatamente com aqueles em que eu estive em Marseille pela última vez!).

Todo este ambiente de descontração e proximidade com o mar resultam obviamente em um ritmo de vida diferente daquele levado pela população das grandes cidades. Por lá o momento do apéro (aperitivo), por exemplo, é s-a-g-r-a-d-o. Ele se passa normalmente ao final de tarde e compreende invariavelmente uma bebida alcoólica e um tira-gosto.

A bebida emblemática da região é o Pastis, de gosto forte particular, feito à base de álcool de cana-de-açúcar onde se fazem macerar sementes de anís-estrela.

Quanto ao tira-gosto, ele pode vir na forma de uma simples porção de amendoins e azeitonas ou até em preparações mais elaboradas. Entre elas a Tapenade, o Aïoli e a Anchoïade são especialidades provençais muito apreciadas e conhecidas por toda a França. De relativamente simples execução, estas receitas representam bem a importância do azeite, do alho, da anchova e das azeitonas na culinária local.

Nos próximos dias estarei publicando aqui este que eu vou chamar o "Trio do Aperitivo Mediterrâneo". São as receitas destas três iguarias, acompanhamentos perfeitos para o apéro, regado ao Pastis, um bom rosé ou uma cerveja bem gelada.

Então comece descontrair, a preparar as cadeiras em torno da mesa, os cubos de gelo e o guarda-sol por que o aperitivo já vai começar!
;)

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Queijo: Uma paixão nacional. Pelo menos por aqui...

Quando se tem a chance de passear pela França dentre as suas diferentes regiões, um tipo muito especial de comércio pode chamar a atenção.
Começa-se a reparar que elas estão em toda parte. Toda cidade tem pelo menos uma.
São inúmeras lojas bem particulares: algumas são muito chiques, sofisticadamente instaladas no coração dos bairros mais descolados da capital. Outras tem ares mais sóbrios, dando a entender que o que se vende ali é coisa muito séria. Algumas até são bem simples e modestas - mas nem por isso menos charmosas - resistindo por vezes à centenas de anos em algum vilarejo perdido da campanha. Ah, mas uma coisa todas elas têm em comum - além do cheiro de chuteiras molhadas, que se sente à centenas de metros de distância: elas vendem única e exclusivamente QUEIJO.
A Fromagerie Jean D'Alos, em Bordeaux.
A gente pode se perguntar se uma loja especializada em queijos sobreviveria em algum outro lugar do mundo. Certamente na França, a resposta é sim. O povo adora queijo! E literalmente não vive sem! São cerca de 24kilos consumidos por pessoa por ano!!!
Só para se ter uma idéia do que estamos falando, o país conta com mais de 350 tipos diferentes catalogados e oficializados deste laticínio! Isso mesmo, dá quase pra provar um tipo diferente de queijo por dia, durante um ano inteiro!

O assunto é levado tão a sério por aqui que os fabricantes classificam os seus produtos em "appellations" e tudo, como o vinho. Diga-se de passagem, nunca ouviu-se falar de um casamento tão feliz como este entre o queijo e o vinho. Existe praticamente um tipo de vinho para uma qualidade de queijo, em combinações estudadas e testadas através de centenas de anos de experiência, buscando realçar sabores e complementar aromas mutuamente.

Diferente da cultura brasileira, onde o queijo vem à mesa sozinho mais naturalmente no café da manhã, na França não é raro que ele faça parte do almoço ou do jantar. Por exemplo, é comum servir um plateau de fromages (prato de queijos) entre o prato principal e a sobremesa. Existem até mesmo restaurantes especializados como o Baud et Millet, onde podem-se degustar refeições inteiras - entrada, prato principal e sobremesa - totalmente à base de queijo.

Enumeram-se tantas lendas para a origem desta iguaria na história da humanidade quanto os seus tipos diferentes que se desenvolveram com o passar dos anos. Numa delas, um nômade do Oriente Médio, por volta de 5000 a.C., teria transportado leite durante uma viagem dentro de sacos feitos do estômago de cabra. O leite, sob a ação do calor e das enzimas contidas na mucosa do saco, teria fermentado, virado uma coalhada e endurecido durante o transporte. O viajante teria provado este leite "empedrado" e começado assim esta que seria uma tradição milenar de amor do homem pelo queijo.

Para terminar, deixo aqui uma frase de Brillat-Savarin, que ao meu ver resume bem o que pensam os seus conterrâneos sobre o fromage:

" Un repas sans fromage est une belle à qui il manque un œil "

"Uma refeição sem queijo é uma bela a quem falta um olho " (!!!)

Steak Sauce au Bleu

Dentre os diferentes tipos de queijos existentes na França o Bleu é, sem dúvida, um dos meus favoritos.

O nome da família dos Bleu (literalmente "Azul") tem origem na cor do fungo que se desenvolve em seu interior (notadamente em ramificações azuladas ou esverdeadas). O processo de introdução deste fungo na massa do queijo dá-se quando ele é ainda apenas uma coalhada. Utilizando-se longas agulhas, o fungo pénicillium glaucum é injetado no centro do queijo e vai se desenvolver em direção ao exterior deste.

O italiano Gorgonzola, o dinamarquês Castello e o inglês Stilton são apenas alguns exemplos deste grande grupo dos queijos azuis.
Dentre eles, o mais conhecido representante francês é o Roquefort: potente, encorpado, aos tons apimentados e ao mesmo tempo sutil, é um queijo a ser degustado sobretudo acompanhado de um vinho branco doce e licoroso (um Sauternes, por exemplo), servido frio.
O contraste entre o bouquet adocicado deste vinho branco (com notas de baunilha e pêssegos) e o "picante" do queijo resulta no realce das características de ambos.

Steak Sauce au Bleu
(Steak ao Molho Azul)

























Ingredients (para 4 pessoas) :

  • 4 belos steaks de uns 150g cada, do seu corte preferido (filet mignon, contra-filé, fraldinha, entrecôte, etc)
  • 25 g de farinha de trigo
  • 25 g de manteiga
  • 300ml de leite
  • 120g de queijo azul (Roquefort, idealmente, ou um outro como Gorgonzola...)
  • sal e pimenta

Modo de Preparo:

  1. Esmague o queijo com a ajuda de um garfo, em migalhas. Reserve.
  2. Em uma panela anti-aderente, derreta a manteiga em fogo baixo.
  3. Adicione a farinha e mexa com uma colher de pau sem deixar queimar.
  4. Adicione o leite pouco à pouco, mexendo sempre, fazendo com que a mistura seja o mais lisa possível.
  5. Quando restar ainda cerca de 1/4 do leite, adicione o queijo esmagado na panela e misture bem. Com o calor ele deverá se incorporar rapidamente ao molho.
  6. Continue a adicionar o leite até que este acabe, mexendo sempre até que o molho engrosse.
  7. DICA: Leve à breve fervura para que o molho não fique com o gosto da farinha.
  8. Acerte o sal e pimenta. Reserve na panela coberta por a tampa para não esfriar.
  9. Grelhe seus 4 steaks ao ponto desejado (sabendo-se que "bem passado" é uma heresia!).
  10. Disponha os filés no prato de serviço, com uma boa camada do molho de queijo por cima e sirva imediatamente.
Sugestão de acompanhamento: batatas cozidas ao forno e um Confit d'échalotes.

Et bon appétit!

Confit d'Echalotes

Eu gosto muito desta receita. Da série "fácil e surpreendente".
Sempre que temos visitas para um final de semana inteiro, numa refeição ou outra eu dou um jeito de preparar meu confit d'échalotes. E todo mundo adora! (Ou mentem educadamente, como manda a etiqueta!).

Trata-se de um acompanhamento ótimo para carnes grelhadas... Não só um bom steak sangrando, mas também um peito de pato bem rosé, hum...

Pesquisando com a ajuda da internet se seria fácil ou não de encontrar "échalotes" no Brasil (a minha idéia é SEMPRE utilizar ingredientes que se podem encontrar facilmente por aí!), me dei conta de que nunca tinha visto uma em nenhum supermercado da minha região do país. Pelo menos, elas nunca tinham me chamado a atenção. Não sabia nem qual é o seu nome em português!

Dei uma procurada e descobri um site onde havia uma tradução e, aparentemente, se diz "chalota". Confesso que não sabia.




Allium Cepa, a chalota ou échalote.

O mais importante nesta receita não é nem a chalota, mas o cozimento. Na origem, ela leva as famosas chalotas, ou échalotes, por que aqui na França elas estão por toda a parte. São utilizadas em tudo: molhos, saladas, grelhados, etc. E são bem fáceis de conseguir.

Trata-se de uma espécie prima da cebola comum, mas de sabor bem mais sutil e menos ácido.
Como eu escrevi antes, se você não encontrar chalotas aí no supermercado da sua cidade, não se desespere. Esta receita vai funcinar igualmente bem com cebolinhas roxas bem novas, que também tendem a apresentar um sabor menos potente que o de uma grande cebola amarela.

O termo "confit" que aparece no nome desta receita não tem uma verdadeira tradução direta para o português. Ele pode significar um corte de carne que foi cozido lentamente na gordura (como é o caso do confit de canard, que é a coxa de pato cozida na própria gordura) ou então um fruto que foi cozido no açúcar, também lentamente, como é o caso das confitures (as geléias de frutas). O que nós vamos fazer então aqui com as nossas cebolinhas é, na verdade, uma forma de geléia.

O importante a saber é que este método de cozimento lento no açúcar ou gordura tinha o intuíto de conservar os alimentos, nos idos tempos pré-civilização-freezer-microondas.

Eu nunca cheguei a testar a longa conservação desta receita em geladeira, por exemplo... Na teoria, ela deve funcionar. Na prática, o meu confit sempre acaba no mesmo dia em que ele foi feito!

Confit d'Echalotes
(Confit de Chalotas ou Confit de Cebolas)















Ingredientes (para 4 pessoas):

  • 8 chalotas (ou cebolinhas roxas bem novinhas, não muito maiores que uma bola de ping-pong.)
  • 4 col. de sopa bem cheias de açúcar
  • 2 col. de sopa de mel
  • 50ml de conhaque (ou outro álcool forte de sua preferência, para flambar)
  • 2 col. de sopa de manteiga
  • 1 copo d'água
  • Sal e pimenta

Modo de Preparo:

  1. Descasque e fatie as cebolinhas bem finas.
  2. Derreta a manteiga em uma frigideira anti-aderente em fogo médio.
  3. Acrescente as cebolas e frite-as sem deixar queimar, mexendo sempre. Se necessário, diminua o fogo.
  4. Quando elas começarem a ficar transparentes aumente o fogo, adicione o conhaque e flambe, com cuidado!
  5. Adicione metade do copo d'água. Reduza novamente à fogo baixo e espalhe bem o açúcar por cima de todas as cebolas.
  6. Deixe o açúcar derreter mexendo sempre.
  7. Deixe fervilhar em fogo baixo mexendo delicadamente até que a água se evapore e uma calda comece a se formar.
  8. Adicione a outra metade do copo d'água.
  9. De novo deixe que esta água se evapore, mexendo sempre delicadamente. O confit começa a apresentar uma textura de geléia marrom-claro, com as cebolas quase transparentes.
  10. Adicione o mel e aumente o fogo. Mexa bem até que o mel ferva alguns segundos formando uma espuma.
  11. Retire do fogo, adicione uma pitada de sal e pimenta (atenção! não salgue muito! o confit deve ter um sabor adocicado) e deixe esfriar bem.
  12. Sirva à temperatura ambiente, acompanhando carnes grelhadas ou um fondue de carne.

Et bon appétit!


segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Pâte à Crêpes Sucrées

Esta receita eu aprendi com um grande amigo meu, o Eric, que teve um café.

O "Café de Poche" (litaralmente "Café de Bolso") era um café bem pequeneninho mas muito simpático, que ficava em frente ao Museu de Aquitaine, aqui em Bordeaux. Tinha até seus habitués e tudo.
E o crêpe era um sucesso.

Eu tive a chance de trabalhar là por um período, o que me possibilitou (além de conhecer um chefe muito bacana que depois tornou-se um verdadeiro amigo) aprender uma receita de massa de crêpes d e l i c i o s a.

Hoje já não existe mais Café de Poche. O prédio ainda está lá, mas uma mini cadeia de fast-foods comprou o ponto. Coisas dos tempos modernos.

Mas felizmente, assim como as boas lembranças daquela época, a receita dos crêpes doces foi guardada para a posteridade.

Vou passá-la aqui, mas vocês têm que jurar manter segredo! ;)

Pâte à Crêpes Sucrées
(Massa para Crêpes Doces)

Ingredientes (para 10 a 20 crêpes, dependendo do tamanho da frigideira):

  • 4 ovos
  • 400g de farinha de trigo
  • 100g de açúcar
  • 50g de manteiga
  • 50ml de Rum
  • 1 litro de leite
  • 1 col. de chá de essência de baunilha
Modo de preparo:

  1. Derreta a manteiga ao micro-ondas.
  2. Misture inicialmente (ao mixer ou liquidificador) o leite frio e a farinha, adicionada aos poucos. Assim evita-se a formação de bolas de farinha dentro da massa.
  3. Com o mixer sempre funcionando, adicione em seguida o açúcar, os ovos um à um, a manteiga derretida, o Rum e finalmente a essência de baunilha. Continue a misturar até obter uma massa lisa e homogênea.
  4. Os crêpes serão melhores se a massa repousar algumas horas na geladeira, em recipiente fechado.
  5. Ao momento de cozinhar os crêpes, derreta uma colher de chá de manteiga em uma frigideira de fundo grosso, de uns 35cm de diâmetro, de preferência. Com uma folha de papel absorvente, retire o excesso de gordura. Eh importante que toda a superfície da frigideira esteja untada.
  6. Utilizando uma concha de sopa, sirva uma porção de massa suficiente para completar o fundo da frigideira, porém em uma camada fina. Espalhe bem a massa por toda a superfície da frigideira. Quando as bordas do crêpe começarem a se soltar, ajude a liberá-lo com uma espátula de madeira ou plástico. Vire o crêpe quando ele estiver cozido do lado inferior. Termine o cozimento do outro lado. Os crêpes deve estar bem dourados.
  7. Repita os passos 5 e 6 até acabar a massa.
  8. Utilize o seu recheio favorito: açúcar e canela, geléia de frutas, Nutella ou, para os puristas, apenas um pouquinho de manteiga.
Et bon appétit!

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Crêpes e Carnaval?!

Então estamos de novo na época de Carnaval.

Eu, como todo brasileiro que se preze, comecei a sentir a agitação natural que o período desencadeia. Como se o coração desse lugar a um surdo que bate no ritmo da folia.
Eh um sentimento um pouco inexplicável, uma energia invisível que eu aprendi a apreciar desde pequeno. Do tempo dos bailes de carnaval fantasiado, de conféti e serpentina. De festa.
Aquela sensção de que as férias de verão estavam alcançando o seu apogeu!
Certo que depois destes quatro dias de êxtase, as aulas iriam recomeçar. O trabalho estaria esperando. A cidade de novo, adeus praia. Adeus areia, adeus mar. Até o ano seguinte.
Mas não antes daqueles quatro dias de festa.
Que maravilha.

Infelizmente não tem desfile de Escolas de Samba aqui em Bordeaux. Tem, é verdade, alguns grupos de percussão brasileira (atenção: a percussão é que é brasileira, os músicos são quase todos francêses, então já viram...) e também de outros países ritmados, que fazem um desfile que não tem nem de longe a produção de uma Sapucaí.
Mas o importante é que todo mundo se diverte.

A parada de Carnaval daqui é até que super animada... para os padrões europeus.
Tem criança fantasiada. Tem bandolin, tem corneta e tambor.
Tem gente dançando. E outros se sacudindo, achando que estão dançando.

E muito importante: tem CRÊPES!!!!
Ah, e isso sim, eles sabem fazer bem.
Pode ser que Carnaval e folia não sejam muito o negócio dos francêses. Mas quando o assunto é comida, tenho que dar o braço a torcer.
Isso se faz bem por toda a França e Bordeaux não é exceção.

Descobri neste último sabado que a tradição por aqui (sim, mais uma relacionada à comida!) é de servir crêpes doces no dia de Chandeleur. Todo dia 2 de fevereiro - 40 dias exatos depois do Natal - as cozinhas da casas, dos cafés e dos restaurantes são inundados pelo doce aroma de baunilha e fleur d'orange.

Dizem que para dar sorte, o ritual de preparo destas iguarias é fazer saltar o primeiro crêpe da "rodada" na frigideira com uma mão, segurando uma moeda na outra. Eh sucesso financeiro garantido por um ano inteiro.

Fazendo as minhas pesquisas descobri que, como tantas outras festas européias, Chandeleur tem as suas prováveis raízes no Cristianismo e no paganismo.

Para os pagãos romanos pré-cristianismo, em torno desta data comemorava-se a festa em homenagem ao deus Pan (protetor dos animais e dos rebanhos) quando era costume então percorrer as ruas de Roma portando velas acessas nas mãos. Devia ser bonito, não?
Já para os cristãos, 2 de fevereiro representa a data na qual Jesus teria sido apresentado ao Templo de Jerusalém por sua mãe, Maria. A festa cristã teria sido instaurada pelo Papa Gélase Ier no século V, aproveitando a data da já existente festa pagã. Ele também ordenara que fossem servidas galettes de farinha para os pelegrinos que viessem até Roma, como uma forma de benedicção. Não, não! Não era uma forma de atrair os camponêses que morriam de fome naquela época e garantir uma multidão para a festa... Aham, sei!

Aparentemente o costume se conservou.

Como muitas outras guloseimas, os crêpes também estão associados ao "mardi-gras" (ou "terça-feira gorda") quando se costumava comer em excesso como forma de preparação para a Quaresma (quarenta dias de interdicção de carne para os cristãos, que dura da Quarta-Feira de Cinzas até a Sexta-Feira Santa, na Pascoa!).

Simbolo do sol, da fortuna e da abundância, o crêpe se tornou sem duvida um dos tesouros francêses mais cultuados. E não é para menos. Quando bem feitos, eles são d-e-l-i-c-i-o-s-o-s.

Bem... Então não esqueçam: frigideira numa mão, moeda na outra.
E salta um crêpe aí!